Rayane Xipaia discursou com a Declaração que cobra resultados concretos que incluam a sabedoria e a ciência dos Povos Indígenas

A jovem ativista Rayane Xipaia, 23 anos, representou as Organizações dos Povos Indígenas (IPO) na plenária de abertura da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (UNFCCC), como uma das vozes da sociedade civil na COP30, realizada nesta terça-feira (11/11) em Belém (PA).

Em seu discurso, construído coletivamente pelas organizações de povos Indígenas na UNFCCC, Rayane falou da falta de compromisso e ambição das Partes que levou ao ponto de não-retorno e chamou a atenção para as condições que os Povos Originários enfrentam há séculos.

“Os Povos Indígenas continuam sofrendo com a colonização dos territórios, a expansão dos combustíveis fósseis, inclusive na Amazônia, a mineração e a indústria do agronegócio”, enfatizou a jovem amazônica. Ela cobrou a urgência de uma ação climática que reconheça os conhecimentos e os direitos dos Povos Indígenas.

“Esta é uma COP indígena, e nós somos detentores de direitos e protetores do nosso conhecimento. Precisamos de resultados concretos que incluam a nossa sabedoria e ciência. Isso não é opcional; é fundamental para a nossa sobrevivência coletiva”, declarou.

A jovem ativista fez recomendações na plenária de abertura: 1) Programa de Trabalho para uma Transição Justa deve respeitar as normas internacionais de direitos humanos, proteger explicitamente os povos indígenas em isolamento voluntário; 2) Garantir acesso a todas as formas de financiamento climático, considerando os mecanismos financeiros liderados por Indígenas; 3) Garantir representação e participação plena e efetiva em todos os processos de tomada de decisão, especialmente nesta COP, nas NDCs e nos NAPs; 4) Reconhecer as contribuições das mulheres, jovens e pessoas com deficiência indígenas e garantir a sua participação.

Atualmente, Rayane integra o comitê da Campeã Jovem da Juventude para a COP30, coordenado por Marcele Oliveira, representando o bioma Amazônia e levando a perspectiva dos povos indígenas aos espaços de decisão. Sua atuação tem se consolidado como uma das principais referências da juventude indígena brasileira na luta por justiça climática.

Pertencente à etnia Xipaia, da comunidade indígena Apïrinã, Rayane é ativista, internacionalista e mestranda em Direitos Humanos pela Universidade Federal do Pará (UFPA). Sua trajetória reflete o protagonismo das juventudes indígenas na defesa dos territórios e na construção de políticas climáticas mais justas e inclusivas.

Em 2023, Rayane foi nomeada Jovem Embaixadora pelo Clima, reconhecimento que marcou o início de sua participação em espaços internacionais. No ano seguinte, foi selecionada como bolsista do Latin America Youth Climate Scholarship (LAYCS), ampliando sua presença em iniciativas globais voltadas ao enfrentamento da crise climática. Desde então, passou a acompanhar a Plataforma de Comunidades Locais e Povos Indígenas da UNFCCC e integrar o Fórum Internacional de Povos Indígenas, com foco especial em financiamento climático.

-*”Contituintes”*

As conferências e reuniões internacionais da UNFCCC contam com três categorias de participantes: representantes dos países (Partes da Convenção e Estados observadores), membros da imprensa e representantes de organizações observadoras. Estas organizações se organizam em nove grupos temáticos — conhecidos como “constituencies” — reconhecidos desde a Rio+20 como atores-chave na implementação do desenvolvimento sustentável.

Algumas das “constituencies” são conhecidas nas COPs por suas siglas em inglês. São elas: ENGO (Organizações Não Governamentais ambientais), BINGO (Negócios e Indústria), RINGO (Organizações Não Governamentais Independentes e de Pesquisa), TUNGO (Organizações Sindicais), YUNGO (Organizações de Crianças e Juventudes), IPO (Organizações de Povos Indígenas), LGMA (Autoridades municipalistas e de governo local), Agricultores e Mulheres e Gênero (WGC).