Evento contará, pela primeira vez, com participação de instituições de pesquisa e transferência de tecnologia, como a Embrapa
No dia 10 de novembro de 2025, a Aldeia Lagoinha, no Território Indígena Taunay/Ipegue, em Aquidauana, MS, será palco da terceira edição da Tecnofam Terena, evento inspirado na Tecnofam (Tecnologias e Conhecimentos para a Agricultura Familiar) realizada em Dourados desde 2014. O evento será das 7h às 16h45 para agricultores, alunos, professores e lideranças locais. A iniciativa tem como objetivo promover o diálogo entre o conhecimento tradicional indígena e as inovações da agricultura familiar, fortalecendo a troca de saberes e práticas sustentáveis.
Pela primeira vez, o evento contará com a participação direta de instituições de pesquisa, transferência de tecnologia e extensão rural, ampliando o alcance dos giros técnicos por áreas experimentais, oficinas tecnológicas, apresentações culturais, palestras e espaço de exposições de projetos. A Embrapa é uma dessas instituições, que participa com quatro oficinas conduzidas por pesquisadores e por um técnico agrícola das unidades Embrapa Agropecuária Oeste (Dourados, MS) e Embrapa Pantanal (Corumbá, MS).
A engenheira florestal Iara Ferreira da Silva Terena, uma das organizadoras do evento, explica que o Tecnofam Terena nasceu dentro da Escola Estadual Indígena de Ensino Médio Pastor Reginaldo Miguel – HOYENÓ’O, a partir de uma visita de alunos ao Tecnofam promovido pela Embrapa em Dourados. “Levamos os estudantes do curso técnico em Agroecologia para conhecer o evento em 2022. A intenção foi mostrar, na prática, a perspectiva de inovação e tecnologia que eles estudavam em sala de aula. Ao retornarmos, surgiu a ideia de fazermos algo parecido para trazer um pouco do que foi visto no evento”, relembra. A partir dessa experiência, nasceu o projeto que hoje mobiliza as sete aldeias do território e o distrito de Taunay, reunindo agricultores, alunos, professores e lideranças locais.
O pesquisador e chefe-adjunto de Transferência de Tecnologia da Embrapa Agropecuária Oeste, Auro Akio Otsubo, destaca que a Tecnofam Terena é um desdobramento direto das ações da Tecnofam e um exemplo concreto de como a transferência de tecnologia pode gerar resultados duradouros nas comunidades. “A Tecnofam tem se mostrado um importante instrumento de aprendizagem e integração entre produtores, técnicos e estudantes. Muitas vezes, os impactos são difíceis de mensurar, mas sabemos que o reflexo dessas trocas é muito grande. Os participantes retornam às suas comunidades, aplicam o que aprenderam e promovem melhorias que vão além do que conseguimos acompanhar diretamente”, afirma.
Oficinas tecnológicas
Inspirado pela experiência de Dourados, a Tecnofam Terena também contará com oficinas tecnológicas que unem ciência e tradição. Uma delas será conduzida pelo próprio Otsubo, com o tema “Mandioca que sustenta: Oficina Tecnológica Heve Xupú para Boas Práticas de Seleção e Preparo de Material de Plantio de Mandioca em Território Indígena do Pantanal”. A capacitação vai abordar qualidade e manejo do material de plantio, além de aspectos ligados à sanidade e controle de pragas. “A mandioca é parte fundamental da alimentação das famílias indígenas e também uma importante fonte de renda. Por isso, o tema é estratégico para o fortalecimento produtivo das aldeias”, explica o pesquisador.
A edição deste ano incorpora temas ligados à soberania alimentar, com oficinas sobre hortaliças, fruticultura, batata-doce e criação de galinhas caipiras, atividades demandadas pelas próprias comunidades. “Tudo isso reforça o papel da Embrapa em sua missão de apoiar o desenvolvimento regional e fortalecer os sistemas produtivos da agricultura familiar e indígena”, completa Otsubo.
Outra oficina promovida pela Embrapa Agropecuária Oeste é intitulada “Da semente à roça: Oficina Tecnológica para Mudas de hortaliças, maracujá e mamão”, ministrada pelo pesquisador Ivo de Sá Motta. A atividade vai abordar o processo completo de produção de mudas, desde a escolha das sementes até o manejo do solo e das culturas. “Os participantes vão aprender, na prática, a produzir mudas de hortaliças e frutíferas com qualidade, utilizando adequadamente substratos, recipientes e sementes”, explica Motta.
Segundo o pesquisador, a escolha das espécies trabalhadas (hortaliças, maracujá e mamão) está diretamente relacionada à segurança alimentar e nutricional das famílias indígenas. “São culturas de ciclo rápido, que garantem retorno econômico em pequenas áreas e contribuem para uma alimentação mais diversificada e saudável”, observa. Ele destaca ainda que o evento é uma oportunidade de disseminar tecnologias consolidadas, fortalecendo a sustentabilidade das práticas agrícolas nas aldeias. “Os jovens são estratégicos nesse movimento. Serão eles que atuarão, daqui para frente, na condução das atividades produtivas nas comunidades”, enfatiza.
A Embrapa Pantanal (Corumbá, MS) também estará no evento, apresentando ao público o tema “Mudas de batatas e tubérculos” por meio de oficina ministrada pelo técnico agrícola Marcos Tadeu Borges Daniel Araújo. Ele vai mostrar nove variedades de batata-doce mesa e uma ornamental, destacando o potencial produtivo, o manejo adequado e a importância nutricional dessa cultura.
Durante a oficina, ele abordará as diferenças entre as variedades, as boas práticas de plantio e colheita e a importância da batata-doce na alimentação saudável das famílias indígenas. “A batata-doce é um alimento acessível, rico em energia e nutrientes, que pode contribuir tanto para a segurança alimentar das famílias quanto para a criação de aves mais saudáveis”, destaca o técnico.
Araújo reforça a conexão entre as pesquisas da área vegetal e o projeto “Galinhas Saudáveis – Vale a Pena!”, mostrando que o excedente de produção ou os tubérculos não aproveitados podem ser utilizados na alimentação das aves, fortalecendo o conceito de aproveitamento integral e sustentabilidade nos quintais das aldeias.
Em seguida, a pesquisadora Adriana Melo de Araújo, da Embrapa Pantanal, fará palestra sobre o projeto “Galinhas saudáveis – Vale a Pena”, desenvolvido pela Embrapa Pantanal em parceria com a Agraer e com apoio da Emenda Parlamentar 2025, leva às aldeias Terena de Aquidauana, MS, práticas de criação segura e manejo sanitário de aves de quintal, fortalecendo a segurança alimentar e a autonomia das famílias indígenas.
Segundo a pesquisadora, o projeto já beneficia comunidades das aldeias Cachoeirinha, Taunay/Ipegue e Córrego Seco, promovendo aprendizado coletivo e geração de renda local. “Nosso objetivo é fortalecer a segurança alimentar das famílias e valorizar o conhecimento tradicional, integrando ciência e cultura. Quando a tecnologia chega de forma simples e adaptada, ela se torna uma ferramenta de autonomia e desenvolvimento dentro das comunidades”, afirma a pesquisadora.
Diálogo de Saberes
Para Iara, o evento representa uma oportunidade única de aproximação entre a comunidade indígena e as tecnologias desenvolvidas pela pesquisa. “A Tecnofam representa uma oportunidade valiosa para a nossa comunidade, agricultores e alunos, pois nos conecta a inovações e tecnologias que antes estavam fora do nosso alcance. Esse evento é um espaço de aprendizado e troca que fortalece a agricultura familiar, apresentando soluções práticas e adaptadas à nossa realidade”, afirma. Ela destaca ainda que a presença de instituições de pesquisa consolida parcerias e estimula o diálogo entre a escola, os produtores e os pesquisadores.
Para Otsubo, o modelo da Tecnofam consolidou-se como uma estratégia de sucesso voltada à agricultura familiar e já desperta o interesse de instituições e municípios de outras regiões do país. “A Tecnofam preencheu uma lacuna existente de eventos voltados especificamente a esse público. Hoje, ela é reconhecida nacionalmente, inclusive por instituições como a ANATER, como referência para levar tecnologia e inovação de forma adaptada às realidades locais”, avalia o pesquisador.
Para mais informações: Núcleo de Comunicação Organizacional da Embrapa Pantanal – pantanal.imprensa@embrapa.br
