Estudo desenvolvido na Esalq/USP estabelece nova visão sobre origem e evolução do grupo

A pesquisa estabeleceu novos limites das espécies de ratos-do-brejo e de sua distribuição geográfica. O estudo reconheceu sete espécies dos roedores, uma a mais do que era conhecido pela ciência, proveniente do nordeste brasileiro em áreas úmidas na Floresta Atlântica e Caatinga.  Trouxe ainda uma nova visão que sugere a existência de distintas conexões temporais entre as áreas úmidas dos biomas florestais da América do Sul. Segundo os pesquisadores, o reconhecimento dessas espécies e de suas distribuições geográficas tem implicações para a conservação delas e de seus biomas.

A pesquisa foi realizada pela pós-doutoranda Joyce Rodrigues do Prado, pelo professor Alexandre Reis Percequillo, ambos do departamento de Ciências Biológicas da Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz” (Esalq/USP) e do Programa de Pós-graduação Interunidades (Esalq/CENA), junto à professora Lacey Knowles, da University of Michigan.

Vulneráveis – Os ratos-do-brejo, do gênero Holochilus, são amplamente distribuídos pelos biomas da América do Sul e exibem hábito de vida semi-aquático, ocupando áreas abertas das planícies tropicais. Segundo Joyce, a especificidade de hábitat e hábito faz com que esses roedores se tornem vulneráveis às alterações na paisagem devido às mudanças climáticas e pela ação antrópica. “Essas ações estão transformando as paisagens ocupadas pelos roedores, principalmente devido à expansão da agropecuária e o aumento considerável dos incêndios em uma das nossas maiores planícies alagadas, o Pantanal”, disse.

A pesquisadora ainda explicou que o trabalho sugere que estas espécies de rato-do-brejo apresentam histórias independentes para cada um dos biomas sul-americanos e com a atual crise da biodiversidade e as taxas de extinção sem precedentes, a eliminação de uma única espécie representará a perda de importante parte de histórias evolutivas únicas.

“A América do Sul abriga uma fauna única e diversa de mamíferos, mas a origem e a história destes animais nos biomas do continente ainda são pouco conhecidas e seu estado de conservação merece muita atenção face às drásticas mudanças ambientais das últimas décadas”, disse a pós-doutoranda.

Genômica – O estudo foi o primeiro no país a utilizar métodos genômicos para delimitar espécies de roedores e descrever sua diversidade. Os pesquisadores se basearam no exame de espécimes preservados em diversos museus de história natural e coleções científicas do Brasil, EUA e Europa. A maioria dos espécimes da nova espécie no Nordeste são resultantes de extensos trabalhos de campo realizados pelo Serviço Nacional de Peste (SNP), depositados no Museu Nacional da Universidade Federal do Rio de Janeiro (MN) durante a década de 1950.

“O recente incêndio que devastou esta instituição nos privou de importantes e insubstituíveis exibições e coleções. Gostaríamos de destacar que os museus e coleções brasileiras são testemunhos de nossa história e fornecem um acesso crítico em nossa busca pelo conhecimento de nossa biodiversidade”, finalizou a pesquisadora.

O trabalho recebeu apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp).

Foto: Paulo Ricardo de Oliveira Roth

Texto: Letícia Santin | Estagiária de jornalismo

Revisão: Caio Albuquerque