Em tempos de emergência climática, falar de qualidade do ar é falar de saúde pública, justiça ambiental e futuro sustentável. E, mesmo sendo invisível, o ar que respiramos é um dos elementos mais impactados – e, paradoxalmente, um dos mais negligenciados – nas agendas climáticas globais.

O ar não conhece fronteiras. Atravessa cidades, países e continentes, carregando consigo tanto vida quanto ameaça. Quando está limpo, representa equilíbrio ecológico e bem-estar. Quando poluído, torna-se vetor de doenças, desigualdade e crise ambiental.

O marco da COP30 e a urgência do tema

A COP30, que acontecerá em Belém do Pará em 2025, representa um marco histórico. Pela primeira vez o Brasil será o anfitrião da conferência climática mais importante do mundo — reunindo líderes, cientistas, empresas e sociedade civil em busca de caminhos concretos para conter a crise climática.

Mais do que um evento, a COP30 simboliza uma virada de chave. O Brasil, dono da maior floresta tropical do planeta, passa a ocupar o centro das discussões sobre o futuro do clima. E essa é uma oportunidade única — e também uma responsabilidade imensa — de colocar a qualidade do ar no centro das negociações internacionais.

Esse é um tema que conecta ciência, saúde, tecnologia, biodiversidade e justiça social, e que ainda carece de protagonismo. Falar de ar é falar de tudo: da energia que produzimos, do transporte que usamos, das florestas que protegemos e dos espaços em que vivemos e trabalhamos.

O ar que adoece: a face invisível da crise

Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), a poluição do ar é hoje o quarto maior fator de risco para mortes no planeta, ficando atrás apenas da hipertensão, do tabagismo e da má alimentação. São 7 milhões de mortes prematuras todos os anos — causadas por doenças cardiovasculares, respiratórias e até cânceres associados à exposição prolongada a poluentes.

Isso significa que, a cada minuto, dezenas de pessoas perdem a vida simplesmente por respirar.

No Brasil, o desafio é duplo. Nas cidades, a frota de veículos movidos a combustíveis fósseis, a falta de mobilidade sustentável e o crescimento urbano desordenado criam verdadeiros bolsões de ar tóxico. Nas áreas rurais e florestais, queimadas — muitas vezes ilegais — lançam toneladas de material particulado e gases nocivos na atmosfera. A fumaça de uma queimada no Pará pode ser sentida em São Paulo.

Essas partículas — como MP2.5 e MP10 — não apenas afetam o clima global, mas penetram profundamente no sistema respiratório humano, provocando inflamações, agravando doenças crônicas e impactando o desenvolvimento infantil.

Mais grave ainda é o aspecto social. A poluição do ar não afeta a todos igualmente. São as comunidades mais vulneráveis, com menor acesso à saúde e infraestrutura, que sofrem os maiores impactos. Crianças, idosos e trabalhadores de baixa renda estão entre os mais expostos. Portanto, a qualidade do ar é também uma questão de justiça ambiental e direitos humanos.

Do desafio à liderança: o papel do Brasil

O Brasil, por outro lado, possui um potencial imenso para liderar soluções inovadoras que unam saúde, clima e desenvolvimento sustentável. Integrar a pauta da qualidade do ar às negociações da COP30 é uma forma de mostrar ao mundo que o país pode ser referência em uma nova visão: a que coloca o bem-estar das pessoas no centro da ação climática.

Alguns caminhos estratégicos se destacam:

1. Soluções baseadas na natureza (SbN)

Proteger florestas significa preservar a biodiversidade e garantir a qualidade do ar. Florestas e áreas verdes urbanas atuam como filtros naturais, absorvendo poluentes e regulando o microclima. Investir em restauração florestal é investir em saúde preventiva e resiliência climática.

2. Urbanismo e arquitetura sustentáveis

Cidades verdes, com transporte público eficiente, ciclovias, fachadas vegetadas e áreas arborizadas, reduzem emissões e melhoram o fluxo do ar. A neuroarquitetura e o design biofílico também mostram como os espaços construídos influenciam diretamente o bem-estar e a saúde respiratória.

3. Tecnologias limpas e inteligentes

Inovações como sistemas de purificação por radiação UV-C, sensores de qualidade do ar, ventilação inteligente e filtros de alta eficiência estão transformando ambientes internos. Escolas, hospitais e empresas que adotam essas tecnologias reduzem significativamente a exposição a poluentes e melhoram a produtividade e o conforto.

4. Transição energética e eficiência

Substituir combustíveis fósseis por fontes limpas – solar, eólica, biomassa – é essencial para reduzir emissões e melhorar a qualidade do ar. A energia limpa é, ao mesmo tempo, ação climática e ação de saúde pública.

O elo invisível nas negociações climáticas

Curiosamente, apesar da centralidade do tema, a qualidade do ar ainda é um elo invisível nas negociações internacionais sobre clima. O foco costuma recair sobre o carbono, a energia e a biodiversidade — todos essenciais — mas o ar, que conecta todos esses elementos, raramente ganha destaque.

A COP30 tem o poder de mudar isso. Ao pautar a qualidade do ar, o Brasil pode demonstrar que saúde e clima são agendas inseparáveis. Respirar ar limpo não é um luxo: é uma condição essencial para que crianças aprendam, trabalhadores sejam produtivos e comunidades prosperem.

Colocar o ar no centro das políticas climáticas é também acelerar o cumprimento dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS):

ODS 3 – Saúde e Bem-Estar

ODS 11 – Cidades e Comunidades Sustentáveis

ODS 13 – Ação Climática

Tratar do ar é, portanto, trabalhar por todos eles ao mesmo tempo.

A inovação brasileira como resposta: o exemplo da Light Air

Nesse contexto, o Brasil também se destaca por meio de iniciativas nacionais de tecnologia e inovação, que mostram que soluções concretas já estão sendo implementadas aqui.

A Light Air, empresa brasileira de consultoria e tecnologia ambiental, nasceu com o propósito de tornar o invisível visível. Focada na qualidade do ar interno, a empresa atua na interseção entre ciência, sustentabilidade e saúde, desenvolvendo soluções que medem, monitoram e melhoram o ar que respiramos em ambientes fechados — onde passamos cerca de 90% do nosso tempo.

A Light Air une engenharia, saúde e ESG, oferecendo desde diagnósticos ambientais até sistemas integrados de purificação com radiação UV-C, sensores inteligentes e estratégias de eficiência energética.

Com base no tripé Pessoas – Negócios – Meio Ambiente, a Light Air demonstra que cuidar do ar é cuidar da produtividade, da saúde e da sustentabilidade financeira das organizações.

Inovação com propósito

Os projetos da Light Air já contemplam ambientes críticos como hospitais, clínicas odontológicas, escolas, restaurantes e espaços corporativos, garantindo ar mais limpo e ambientes mais saudáveis. Além de reduzir a propagação de vírus, fungos e bactérias, suas soluções contribuem para a redução de absenteísmo, melhoria da performance cognitiva e bem-estar geral.

Durante a COP30, trazer iniciativas como a da Light Air ao debate significa valorizar o protagonismo brasileiro em um tema que é global. Mostra que inovação, sustentabilidade e saúde podem caminhar juntas — e que as soluções climáticas podem nascer dentro de casa, nas empresas, nas escolas e nos espaços públicos.

Mais do que tecnologia, a Light Air propõe uma mudança de consciência: compreender que o ar limpo é um ativo estratégico, um diferencial competitivo e um símbolo de responsabilidade social.

Rumo a um futuro respirável

A COP30 em Belém é a oportunidade de mostrar ao mundo que o Brasil pode liderar um movimento que integra saúde, clima e justiça ambiental.

É hora de transformar o invisível em prioridade, de medir o que ainda não é medido e de implementar políticas públicas que tornem o ar limpo uma meta tangível.

Monitorar a qualidade do ar interno, incentivar transporte limpo, apoiar a inovação verde e estimular a transição energética são ações que convergem para um mesmo objetivo: garantir que o futuro seja respirável.

Um chamado à ação

Ar puro é ação climática, é saúde para todos, é justiça social.
Mas, acima de tudo, é um direito humano.

Ao colocar o tema no centro das discussões, o Brasil pode inspirar o mundo a agir.
E empresas como a Light Air mostram que o futuro já começou — aqui, agora, em cada ambiente que respira inovação.

Porque cuidar do invisível é cuidar do essencial.
E, rumo à COP30, o Brasil tem a chance de provar que o ar limpo é o verdadeiro indicador de prosperidade.

Por: Paula Machado é CEO da Light Air, cirurgiã-dentista e mestre em Ciências da Saúde. Lidera iniciativas em qualidade do ar interno e sustentabilidade, conectando ciência, saúde e inovação para um futuro mais equilibrado. Coordenadora do GT Saúde e Bem-Estar da ABRAPS, publicado originalmente na Revista Amazônia