Paulo Henrique do Santos

“Os sintomas físicos e psíquicos não são nada mais do que manifestações simbólicas de complexos patogênicos.” (Jung, 1907, p. 332).

Mesmo sabendo que uma epidemia global poderia ser possível, nenhuma nação se preparou para enfrentar o Covid-19. Começou isolada na China, polêmicas à parte sobre a omissão de informações sobre a real dificuldade em enfrentar a doença, tomou outros países com violência e rapidez poucas vezes vista na história. Tornou-se global em poucos dias. O desconhecimento sobre o que a ciência está enfrentando aumenta ainda mais o medo e ansiedade ao redor do mundo.

Entendo as doenças como manifestações do psiquismo. Mesmo um agente não-vivo (sim, os vírus não são seres vivos, são moléculas de ácido ribonucleico), microscópico, provoca pânico nas pessoas, trazendo conteúdos inconscientes à tona. Medo da morte, medo de perder pessoas próximas, medo de sofrer. Pessoas sendo obrigadas a conviver numa mesma casa. Exercício de tolerância e paciência. Ou morando sozinhas, tendo que viver consigo mesmas. Ninguém passa por ileso por uma situação como esta. Estamos vivendo, em nossos dias, claramente, uma invasão de novas doenças. O estilo de vida que prevalece facilmente promove o estresse, atingindo, em cheio, o funcionamento do sistema imunológico, o sistema de relação do indivíduo com o meio e com o outro. É impressionante como a era digital (ou sociedade da informação) mostra que é a relação do homem consigo mesmo, com o outro e com o meio que o adoece. Poderíamos citar: as doenças do sistema imunológico, as autoimunes, as depressões, as neuroses, etc. Desta forma, quando um especialista encontra o significado da doença na vida de cada indivíduo, ela pode funcionar como um símbolo estruturante da personalidade, definindo o sentido ou a direção da vida. A partir daí, é possível encontrar a cura, no caso do Covid-19, coletiva.

Ao invés de olhar pra fora olhar para dentro. Talvez o significado deste processo de cura global seja o de resgatarmos a empatia, o ‘colocar-se no lugar do outro’. Nossa sociedade tão materialista, nas quais consumimos tudo (inclusive relacionamentos que deveriam ser amorosos), teve que adoecer e ficar em casa para refletir sobre o que devemos mudar. A busca por culpados, a maneira como se conduz a crise, tudo vira motivo de discórdia. Os nervos à flor da pele são conteúdo do inconsciente que se projetam uns contra os outros. Novamente, é hora de olhar para dentro. Com a epidemia, alguns voltaram a buscar na espiritualidade alívio e conforto. Voltaram a exercitar a paciência e a descobrir novos prazeres. A privação de contato social, fez com que valorizasse mais os abraços e beijos. Valorizasse o que é essencial para cada um. A empatia pressupõe um olhar amoroso. Resgatar esse amor é essencial agora.

Nossa glândula timo é responsável pelo nosso sistema imunológico, produz a timosina, que reforçam os leucócitos que nos protegem. O timo, pra quem não conhece, fica próximo ao coração e pulmões. É uma glândula que cresce até os 12 anos aproximadamente e vai diminuindo conforme envelhecemos. Será que não é hora de voltarmos a estimular nosso timo, através de um olhar mais empático e amoroso?

Não digo para abandonar a alopatia. Enquanto a vacina não chega, regras de higiene, distanciamento social e a boa alimentação (alimentos como gengibre e açafrão melhoram nossa imunidade) ajudam e muito a prevenir o contágio. Novos medicamentos estão sendo testados com sucesso. Sabemos disto e vamos superar o momento. Vamos vencer mais esta crise. Mas venceremos mesmo, se houver transformação, se ficarmos mais conscientes de nosso papel no mundo, aumentando a tolerância, a empatia e o amor.

Algumas pessoas querem viver, então pagam o preço da vida. Outras querem evitar a morte, então pagam o preço da morte. A escolha é de cada um (Alvarenga,1988).

Paulo Henrique dos Santos é Psicólogo pela PUC-SP, desenvolveu carreira na área de gestão de pessoas e desenvolvimento humano, ocupando cargos de gestão nos últimos 17 anos. Possui MBA em Administração de Pessoal pela Universidade São Marcos e Especialização em Gestão de Pessoas pela FGV-SP. Coach, PNL Practitioner e Hipnólogo.